Há uma boa razão para ir ao Lounge hoje à noite: “Magic Trix”, senhores, duas palavras, entre aspas se o livro de estilo a tal obrigar. É o título de um álbum editado já há uns meses mas que tem tudo para esticar o prazo de validade por um período generoso. A assinatura é de Xenia Rubinos, americana com história latina e quase-nome de guerreira épica. Na verdade, o melhor é tirar o “quase” na expressão. No tal “Magic Trix”, Xenia luta contra o tempo, o ritmo, as fórmulas, a previsibilidade. Morra o tédio, morra, pim. E hoje a luta é em directo e ao vivo, mano a mano, combate na primeira fila. Antes que comece, resolvamos as questões essenciais numa conversa ao telefone: Olá. Como devemos pronunciar este nome sem mácula? “Diz-se ‘ssénia’.” Muito bem, feito.
Rubinos, esse, é o apelido e lê-se tal qual se escreve. Tem ascendência com pinta, vinda de Porto Rico e Cuba. Apesar disso, recebe correio em Brooklyn, claro. Passeia-se por lá e pelas hipóteses de fazer-gravar-tocar-mostrar a sua música há uns tempos valentes, tendo só este ano conseguido editar o primeiro álbum. “Esta foi a minha primeira vez”, diz-nos ao ouvido. Bonito. “Faço canções há algum tempo mas nunca tinha gravado um disco. Daí que no início de todo este processo isto me tenha parecido um pouco assustador. Mas dei-me bem, é isso que importa.”
Repetimos: é isso que importa. “Magic Trix”, pop disfuncional, do melhor que a escola “sem regras, isto é o século xxi” produziu nos últimos tempos. Xenia canta enquanto se atira ao teclado, que é tão dado à família do piano como às guitarras sintetizadas com pinta. Pelo caminho enrola tudo em loops e nós vamos enrolados na conversa. E depois há bateria, uma enorme bateria, pouco dada a amizades, afastem-se, deixem passar quem trabalha. “É, ele é incrível.” Ele é Marco Buccelli, o homem que dá ainda mais nervo a tudo isto: “Baterista extraordinário, ele é óptimo, não é?” É pois, e além disso também produz “Magic Trix”, preocupado em juntar todos os pedaços desta agradável confusão.
Ainda que, esclareçamos bem o assunto, este álbum tenha nascido ao vivo e não surja pedaço a pedaço. Xenia, por favor, um ajudinha nas explicações: “O que está em disco é tocado ao vivo, nós no estúdio, juntos, mas em directo, sem rede. OK, repetimos uma ou outra coisa, mas nada de especial. Certamente ninguém esperava que isto saísse tudo à primeira, certo?”
Quer isto dizer que não haverá dificuldades em levar “Magic Trix” ao Lounge, já que a natureza do feito é uma espécie de olhos-nos-olhos, é isso? “É isso. Haverá talvez uma diferença.” Bom, então há por aqui questões a resolver, nada podia ser assim tão simples. “Não, não é nada de especial. Apenas somos só dois e no início não era assim.” Não era. No princípio era o trio, com um baixista a ajudar na lide. Agora, Xenia e Marco viajam sozinhos, dupla atacante sem ninguém para as sobras. Mas e então? Que estas canções se façam rodear de gente, que as estrofes merecem, os refrães (quando os há) também e Xenia+Marco prometem não deixar espaço para dúvidas. Na verdade, o que se escuta em “Magic Trix” começou nestes dois heróis, é mais que justo que sejam eles a recolher o que vier com a vitória inevitável que os espera.
Até porque difícil é tudo o resto, não é isto. Isto é uma maravilha, rapaziada, uma maravilha: “É um desafio, mas não se mede em trabalho. Quer dizer, é trabalho, claro que sim, mas se me pusesse a pensar acho que nunca me meteria nisto. Não sou mãe, mas acho que ser mãe deve ser mais ou menos isso. Uma mãe, se pensar no trabalho e nas dores de cabeça que a criança lhe vai dar, não se mete na confusão. Mas se o faz é por amor. As canções funcionam da mesma maneira. Com menos fraldas.” O melhor do mundo são as crianças.
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