Há tipos com menos pinta a fazer sucesso no mesmo campeonato

Daí que se isto não correr bem é coisa para não ter grande explicação. Parece só mais um inscrito na prova “resolvamos já isto esta noite que a partir da amanhã nunca mais nos falamos”. Disco novo, esta semana. O título é Because the Internet. Vai Donald:

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Uma noite com Xenia Rubinos é uma surpresa

Xenia-Rubinos-nueva-2-crédito-Shervin-LainezHá uma boa razão para ir ao Lounge hoje à noite: “Magic Trix”, senhores, duas palavras, entre aspas se o livro de estilo a tal obrigar. É o título de um álbum editado já há uns meses mas que tem tudo para esticar o prazo de validade por um período generoso. A assinatura é de Xenia Rubinos, americana com história latina e quase-nome de guerreira épica. Na verdade, o melhor é tirar o “quase” na expressão. No tal “Magic Trix”, Xenia luta contra o tempo, o ritmo, as fórmulas, a previsibilidade. Morra o tédio, morra, pim. E hoje a luta é em directo e ao vivo, mano a mano, combate na primeira fila. Antes que comece, resolvamos as questões essenciais numa conversa ao telefone: Olá. Como devemos pronunciar este nome sem mácula? “Diz-se ‘ssénia’.” Muito bem, feito.

Rubinos, esse, é o apelido e lê-se tal qual se escreve. Tem ascendência com pinta, vinda de Porto Rico e Cuba. Apesar disso, recebe correio em Brooklyn, claro. Passeia-se por lá e pelas hipóteses de fazer-gravar-tocar-mostrar a sua música há uns tempos valentes, tendo só este ano conseguido editar o primeiro álbum. “Esta foi a minha primeira vez”, diz-nos ao ouvido. Bonito. “Faço canções há algum tempo mas nunca tinha gravado um disco. Daí que no início de todo este processo isto me tenha parecido um pouco assustador. Mas dei-me bem, é isso que importa.”

Repetimos: é isso que importa. “Magic Trix”, pop disfuncional, do melhor que a escola “sem regras, isto é o século xxi” produziu nos últimos tempos. Xenia canta enquanto se atira ao teclado, que é tão dado à família do piano como às guitarras sintetizadas com pinta. Pelo caminho enrola tudo em loops e nós vamos enrolados na conversa. E depois há bateria, uma enorme bateria, pouco dada a amizades, afastem-se, deixem passar quem trabalha. “É, ele é incrível.” Ele é Marco Buccelli, o homem que dá ainda mais nervo a tudo isto: “Baterista extraordinário, ele é óptimo, não é?” É pois, e além disso também produz “Magic Trix”, preocupado em juntar todos os pedaços desta agradável confusão.

Ainda que, esclareçamos bem o assunto, este álbum tenha nascido ao vivo e não surja pedaço a pedaço. Xenia, por favor, um ajudinha nas explicações: “O que está em disco é tocado ao vivo, nós no estúdio, juntos, mas em directo, sem rede. OK, repetimos uma ou outra coisa, mas nada de especial. Certamente ninguém esperava que isto saísse tudo à primeira, certo?”

Quer isto dizer que não haverá dificuldades em levar “Magic Trix” ao Lounge, já que a natureza do feito é uma espécie de olhos-nos-olhos, é isso? “É isso. Haverá talvez uma diferença.” Bom, então há por aqui questões a resolver, nada podia ser assim tão simples. “Não, não é nada de especial. Apenas somos só dois e no início não era assim.” Não era. No princípio era o trio, com um baixista a ajudar na lide. Agora, Xenia e Marco viajam sozinhos, dupla atacante sem ninguém para as sobras. Mas e então? Que estas canções se façam rodear de gente, que as estrofes merecem, os refrães (quando os há) também e Xenia+Marco prometem não deixar espaço para dúvidas. Na verdade, o que se escuta em “Magic Trix” começou nestes dois heróis, é mais que justo que sejam eles a recolher o que vier com a vitória inevitável que os espera.

Até porque difícil é tudo o resto, não é isto. Isto é uma maravilha, rapaziada, uma maravilha: “É um desafio, mas não se mede em trabalho. Quer dizer, é trabalho, claro que sim, mas se me pusesse a pensar acho que nunca me meteria nisto. Não sou mãe, mas acho que ser mãe deve ser mais ou menos isso. Uma mãe, se pensar no trabalho e nas dores de cabeça que a criança lhe vai dar, não se mete na confusão. Mas se o faz é por amor. As canções funcionam da mesma maneira. Com menos fraldas.” O melhor do mundo são as crianças.

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Beachwood Sparks, “Desert Skies”: A cavalo numa nave espacial

bsBoiadeiros cósmicos, estes tipos. E porque o espaço é grande, andam quase sempre tresmalhados. 1997: “Vamos fazer uma banda”; 2002: “Se calhar é melhor fazer uma pausa”; 2008: “E que tal tentarmos outra vez?”; 2013: “Desta vez lançamos o nosso álbum de estreia”. Isso mesmo. Uns bons anos depois do início e três discos de originais mais tarde, os Beachwood Sparks decidem finalmente editar o primeiro álbum que gravaram. Todas as canções têm o carimbo de finais de 90 (antes do registo homónimo de 2000), gravadas quando a banda ainda abrigava seis músicos. É o Sul da Califórnia em disco. Os Byrds e os Flying Burrito Brothers e até os Eagles, country-folk-rock e outras categorias da mesma estirpe, tudo junto, tudo mexido a psicadelismo controlado, tudo em bom e a partir de um arquivo, o que torna a surpresa ainda melhor.

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Discodeine: Isto vai direito para tudo o que é pista e festivais do ano que vem, noves fora nada

Discodeine-530Tem os tiques todos para danças sem coreografia e mãos entre cigarros e copos (há outra variantes, também são boas) e a voz de Kevin Parker, o herói psicadélico dos Tame Impala que um dia vai ser estrela de cinema, se isto continua assim. A canção já tem uns meses mas e então, há problemas? O álbum que lhe diz respeito, Swimmer, é editado esta semana. Vale tudo. Estes gauleses, pá:

 

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Childish Gambino queria que “Sweatpants” ainda fosse segredo

Azar o dele, sorte a nossa:

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YCWCB: estas letras dizem-nos já feliz ano novo

ycwcbO que esta gente faz não é coisa fácil: investir tempo e matemática em canções estudadas ao pormenor e ainda assim recheá-las de emoções, com tudo o que de bom tem chegar perto da choraminguice mas nunca chegar a tocar-lhe. Ouvimos “sê tudo para mim” e afins mas aqui também estão uma espécie de janeiras antecipadas. É um boas festas-feliz ano novo antes do tempo, que ainda não chegámos lá mas os You Can’t Win Charlie Brown regressam aos discos em Janeiro e é assim que se fazem as coisas. A primeira dica tem tudo o que é preciso:

foto de vera marmelo
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Os Beachwood Sparks vão finalmente lançar o primeiro álbum: ideia de génio

beachwood-sparks-desert-skiesEstes Flying Burrito Brothers da cidade, esta gente das cowboyadas melodramáticas com os Byrds como vício, isto é que é surpreender. Apresentam-se ao serviço em finais de 90, no início do novo século dizem que se calhar é melhor parar com a brincadeira. E regressam em 2008 para gravar The Tarnished Gold, um dos melhores álbuns do ano passado (não há volta a dar). Agora vão finalmente mostrar ao mundo Desert Skies, o álbum de estreia que nunca chegou a sair. Acontece tudo na próxima semana. Dizer que isto são psicadelismos fora de tempo parece piada mas não é:

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1977: o ano em que o punk rock foi uma ameaça à sociedade

Ameaça maior do que qualquer outra, coisa mais perigosa que o comunismo vindo do outro lado do muro, diziam os britânicos, assustados com o que estava por vir. O iluminado John Peel acalmava os nervos, falava numa “revolução da música popular”, assegurando que tudo ia ficar bem. Um prós e contras com mais de 30 anos e feito a partir de Manchester:

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Stephen Malkmus vai continuar a ser o maior

Em Janeiro, logo na primeira semana, com os Jicks, esses porreiros:

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The Beatles: segundo capítulo da radionovela

bbcalt1Em 1981, Philip Norman lançava uma das mais populares biografias dos Beatles, “Shout!”. Nessa altura, mais de dez anos após o fim da banda, perguntavam–lhe “mas achas que ainda há alguma coisa para descobrir sobre os Beatles?”. Claro, hoje rimo-nos todos da questão. Mas se assim é, não vale mandar piadas toscas e comentários fáceis como “outro disco dos Beatles, mas já não ouvimos tudo destes gajos?” quando nos encontrarmos cara a cara com o novo “On Air: Live at the BBC Vol 2”. E chamar “gajos” aos Beatles também não fica nada bem.

Como o título indica, este disco é a segunda parte de uma edição clássica de 1994, “Live at the BBC”, que reunia gravações da banda nos estúdios de rádio da respectiva estação britânica feitas entre 1963 e 1965. O volume 2 regressa ao mesmo arquivo, para mostrar ao mundo as gravações que ainda estavam por revelar. Ao contrário do que acontecia com o primeiro volume destes registos, aqui não há temas originais para dar ao mundo. São gravações inéditas de temas que já conhecemos e versões de outros artistas, dos heróis que os Beatles, em 1963 e 64, ainda tinham muito presentes para alimentar a criatividade do grupo. Buddy Holly, Little Richard, Carl Perkins ou Ray Charles, todos eles se passeavam no meio daquilo que os quatro tocavam – e na forma como tocavam. Até porque em 1963 os Beatles ainda estavam a caminho de mudar para sempre a música pop, a coisa não se fez de repente e exigiu boas referências.

Assim sendo, o mais cativante deste “On Air” é ouvir os Beatles ainda com os tiques da estrada para rufias que conquistaram nas noites de Hamburgo. Já a caminho de os transformarem em coisa maior, mas calma que o primeiro álbum “Please Please Me” acabou de sair e não podemos queimar etapas.

Aquele era o ano do primeiro álbum, do início da beatlemania. O que acontecia era rock’n’roll de fãs transformados em ídolos, músicas de engate, todas, umas mais óbvias que outras, mas como estilo coisa que chegue. Está tudo nesta nova edição, composta por 63 faixas. Canções, muitas, o espaço nos discos é-lhes dedicado com grande destaque. Mas pelo meio também escutamos as conversas de rádio, pequenas entrevistas ou confissões voluntárias dos músicos. Eram todos entertainers, homens de espectáculo, com ironia, humor, sarcasmo. E até confissões escondidas no meio de piadas – John Lennon já queria mudar o mundo e com algum esforço até somos capazes de o ouvir dizer algo parecido com tal vontade no meio destas fitas de outros tempos.

Mas fica o aviso: nada disto quer dizer – como a história já se encarregou de comprovar – que a tarefa de limpar a arrecadação dos Beatles esteja finalmente concluída. Até porque começou agora a ser publicada no Reino Unido a mais ambiciosa das biografias dos Beatles alguma vez escritas, com o título “All These Years” (de Mark Lewisohn) e dividida em três volumes de generosa densidade. Já se sabe, com páginas novas vêm outras tantas gravações que esperavam apenas o momento certo para dar sinal de vida. Tudo para dizer: este não é um adeus, é um até já.

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