Havia um tipo lá na rua que tinha uma doença chamada Lou Reed. Perguntávamos todos o mesmo: porquê? Depois alguém apareceu com o disco que fez o favor de esclarecer os comuns mortais. Tinha uma banana na capa e dava camisolas bonitas – coisa engraçada, que divertido, mas quem o ouviu com tempo e entrega tramou-se para a vida. Cantar com a voz pequena mas com mania de gigante em cada nota. Falar com calma, sem pressas, sem nervos, e ainda assim assustar meio mundo e seduzir a outra metade. E em cima disso usar óculos escuros, deixar de usar, camisa engomada, depois o cabedal, no casaco e nas calças, o cabelo louro quando ontem era escuro. Contas feitas: mais que tudo, Lou Reed dedicou-se a mudar a história da música popular. Transformar contos de vida na cidade em canções maiores que todos os que as ouviam. Dizer que menos é mais, para que o mundo ouvisse e tentasse fazer o mesmo, cada um à sua medida. O primeiro punk. O primeiro alternativo. O primeiro a experimentar o que havia para experimentar. O primeiro underground que vestia veludo. Era dar-lhe uma guitarra e ele havia de nos dar uma rua inteira de Nova Iorque transformada num hino negro, da cabeça aos pés. Lou Reed podia isto tudo e conseguiu isto tudo, com o disco da banana e todos os que se seguiram. Nós só tivemos que nos deixar encantar por um génio irrepetível, que não podia ter decidido sair de cena sem aviso, não se faz. Agora sim, dizer que o rock morreu é coisa justa. Dia 27 de Outubro. Alguém o vai transformar em feriado, se não for o tipo lá da rua será outro – este que assina isto é uma hipótese.
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